domingo, 3 de abril de 2011

    - Quando eu falar “já”.
    O vento soprava forte e constante, fazendo a blusa grudar em suas costas e seus cabelos se insinuarem perante seus olhos. Sua amiga usava um vestido amarelo que dançava agitadamente e parecia arder sob a imponência do sol.
    - Já!
    Elas começaram a correr. A cada passo, um vôo alçado com a ajuda do vento. Seus pés descalços amassavam a grama por onde passavam. Lembrança física e irremediável de que ali estiveram.
    Correram até o cansaço se sobrepor à euforia e derrubar-lhes sobre o verde intenso. Acompanhada da amiga, a menina começou a rir.  Não uma gargalhada desmedida e sufocante, mas um riso compassado que compunha uma espécie de música junto ao balançar das folhas.
    Embora nuvens pairassem a lhes observar, o sol impunha seu calor, cobrindo seus corpos com uma chama invisível.
    Adormeceram.
    Quando acordaram, às primeiras gotas de chuva, correram às suas casas para se abrigarem. Veriam-se no dia seguinte, e tornariam a rir e a brincar juntas, pensaram antes de dormir.
    De manhã, quando chegou ao jardim, lá estava ela. A menina sorriu por um instante antes de ouvir sua sentença:
    - Vou viajar.
    - Quando?
    - Amanhã.
    - Você vai demorar?
    Baixando a cabeça, a amiga olhou para o chão, sem prestar muita atenção a ele. Como em um ritual, a menina imitou o gesto, deixando que o vento lhes sussurrasse o silêncio. Envolvidas em um abraço não dado.
    O carro partiu pouco depois do almoço. Em sua janela via-se um sorriso tão inútil quanto o aceno que mais parecia querer agarrar o tempo.
    A menina apressou-se ao jardim e, feliz, constatou que ainda estavam lá o céu revestido de nuvens e o gramado cujo verde se alastrava até as copas das árvores. Aliviada, preparou-se para começar a correr, quando reparou que havia parado de ventar.
    Ela teria que voar sozinha.