segunda-feira, 26 de novembro de 2012



    Meio de novembro. Uma cobertura já enfeitada de natal pisca verde vermelho amarelo. A luz do poste escorre pela chuva dentro de mim junto com o chope. Quatro e setenta, o chope. Eu, que só tenho duas notas de dois para um possível assalto, fico devendo setenta ao garçom. O assaltante que me desculpe, pago fiado. Fica justo.
    Uma nuca atraente.
    Quem me expulsou de casa é a vontade de engolir o mundo. De ser engolida viva, digerida. Ou de causar indigestão.
    A mão inclina o copo que entorna na boca o chope gelado. Primeiro, espuma. Em seguida, o líquido dourado. Lábios, dentes, língua céu da boca. Vai amortecendo, acolchoando, preparando a cama, travesseiro, lençol, edredom. Escorre, depois, pela garganta e dá conta do resto do corpo. Pijama de moletom.
    Há quem prefira um leitinho quente.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012


Vende-se coração.

Descrição: péssimo estado de conservação. Partido recentemente por uma bela dama, estando, pois, bastante remendado e batendo com certo desprazer, além de apresentar histórico familiar de morte prematura por infarto, uma coleção de pontes de safena e outros tantos acidentes cardiovasculares.

Tamanho: aproximadamente 12 cm de comprimento por 9 cm de largura, oscilando no compasso sístole-diástole e comprimindo-se até o tamanho de um caroço de uva em situações de tensão ou sofrimento.

Ao comprador: se tratado com hábitos saudáveis, como uma alimentação balanceada e exercícios físicos regulares, evitando, assim, sobrecarregar o órgão em questão devido a entupimentos de veias, artérias ou quaisquer outros destes canais, e com uma pequena dose diária de carinho e respeito, estima-se que dure ainda mais algumas décadas. Embora, talvez, capengando um pouco.

Preço: uma pechincha.

Desej’ânsia.



Os dois corpos.
É só o que há.
Buscam-se,
perdem-se.

Nas curvas, nos impulsos,
mãos e bocas não se bastam.
Muito querer para pouco corpo,
ou muito corpo para, ainda muito, querer.

Cheiros e gostos.
Os olhos que chamam,
o toque que arrasta.
Ela me mostra, ela me cega.
Ela me exige,
em seu retrato mais meu.
(Tão) Bonita.

Os dois corpos
se acham,
se afinam
e se findam.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012


Meu mal é a falta de pressa.
Tudo o que sai de mim
é o que já estava pronto há muito tempo.
Não é questão de querência,
é só que eu não nasci pra ser grandes coisas.