domingo, 14 de agosto de 2011

    Acordara em um daqueles dias marcados para dar merda. O café-da-manhã estava uma delícia e fora tomado em companhia das mais belas e agradáveis, com direito a achocolatado e chocotone - talvez um prenúncio intestinal da tal merda supracitada. Engolida a refeição - e outras tantas coisas bem menos saborosas - a namorada foi embora para (des)cuidar de sua vida. Ficou, então, sozinha: louças e lágrimas. Para as louças, não deu atenção; as largou na pia e foi para a cama, onde não escapou às lágrimas. Se desentendera, não bem com a namorada, mas consigo mesma. Em verdade, não sabia do que se tratava, porém, fosse apenas aquela angústia matinal dos que só conhecem o mundo pós-meio-dia, fosse a despedida prematura dos beijos e carinhos, sabia que precisava sair de casa e inventar uma alegria qualquer.    
    Nesse ímpeto de (sobre)viver, tomou um banho e saiu rumo ao cinema. No caminho - um pequeno peido diante da cagada iminente - avistou uma parente daquelas mais sorridentemente chatas, e ainda com a filha a tiracolo. Tentou dar meia-volta, mas, estando no meio da travessia da rua, e com os carros se aproximando, não teve jeito, preferiu, ainda que com certa hesitação, a parente à morte. Entre um "como você está alta!" e um "aparece lá em casa!":
    - E sua avó, como está?!
    - Ela tá bem.
    - E seus pais? Seus irmãos?
    - Estão bem, tá todo mundo bem.
    - Ah, e você está ótima, né?! Dá pra ver na sua cara!
    Sem poder alegar falta de saco, contentou-se em alegar falta de tempo e se despediu, imaginando em que parte de sua cara estaria toda aquela otimidade, se nos olhos inchados ou no nariz vermelho e entupido. E então lhe veio um riso fácil, divertido. "Dá pra ver na sua cara!". Seguiu ao cinema e, rindo-se ainda da melhor do dia, comprou seu ingresso, uma caneta e sentou para escrever enquanto esperava a hora da sessão.
    Deu-se a cagada, que só respingou nela dias depois. Daí, jogada novamente em sua cama, os olhos já turvos de lágrimas e desânimo, sorriu para si, irônica e vaidosamente satisfeita: sua cara devia estar otima.

sábado, 13 de agosto de 2011