segunda-feira, 1 de novembro de 2010


   “Fecha os olhos e levanta a cabeça”, ela dizia. Eu devia ter uns três ou quatro anos e minha mãe me ensinava a lavar o cabelo sem que o xampu escorresse para meus olhos. A água morna, o cheirinho de banho de criança e a voz tão aconchegante: “Fecha os olhos, filha!”.
   Ela mesma, segurando meu queixo, inclinava minha cabeça e alisava meu cabelo, tirando a espuma de minha testa. “Tá ardendo, mamãe, me dá a toalha!”, “Filha, eu não disse pra fechar o olhinho?! Toma, enxuga”. E ela beijava meus olhos como a curar todas as dores do mundo.
   Eram os banhos de uma vida. Cantávamos, ríamos e nos abraçávamos. Sorríamos mais do que ríamos. Essa simplicidade avassaladora que materializa o amor e o transforma em uma só cena, em memória, em intocável lembrança.
   No final, ela enxugava meus pés na toalha antes de eu pisar no tapete. Esquerdo e direito, esquerdo e direito: duas vezes; porque, distraída, eu os colocava de volta no chão molhado do boxe.
   Agora, não tenho e não preciso mais da ajuda de minha mãe para tomar banho. Porém, quando vou tirar o xampu, ainda sinto sua mão em meu queixo e, sorrindo, ouço sua voz sussurrando: “Fecha os olhos, filhinha”.

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