sexta-feira, 15 de julho de 2011

Roda de Samba


    Me vi de repente em uma roda de samba – nem tão roda e nem tão samba. Para minha namorada, estou em casa; não que eu tenha mentido, mas estava subentendido. Depois eu conto. E agora estou escrevendo quieta num canto, só ouvindo o não tão samba, e olhando... só olhando, o que nem é bem para ser olhado.Mas é isso, subiu a vontade: escrever. Porque para ler minha cabeça está girando depressa demais. Dormirei com a cama a galope.
    Pessoas me olham e, certamente, pensam que sou passível de algum tipo de bullying: escrevendo em uma roda de samba.
    (...)
    O vento está batendo forte. Estou tremendo e minha letra está tremida. Escrevi assim mesmo, juro: estou e está. Acho que a tremedeira começa no joelho e vai até a boca, passando pela caneta. Só porque ainda não aprendi a tremer as orelhas.
    A música está dizendo preu ficar. Fico?
    (viro a página – fico.)
    batem palmas quero ir pra mais perto não quero vírgulas
    Tem gente girando e dançando com garrafas de eu quero na mão. Meu dinheiro pra bebida acabou, só resta o do ônibus, e desse ainda não desapeguei.
    (...)
    O efeito está passando, sou só eu mesma. Que bosta! (risos)
    “Cerveja gelada vai chegar em cinco minutos!”. Construção. É do que preciso para ficar aqui pra sempre.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Jair do 504


    Estou em meu apartamento estudando quando toca o interfone. Atendo:
    - Boa tarde, aqui é o Jair do 504.
    Vejo-me completamente desconcertada por não ser o porteiro anunciando a chegada de algum amigo ou entregador. “Caramba! Há outras pessoas no prédio! E elas falam...”. Por que a surpresa, Mariana? Você sempre soube disso, oras.
    Estou acostumada a meu mundo de rostos marcados, já tarimbados. De resto, figuras sem rostos, sem nomes. E agora me vem esse tal vizinho do 504 me lembrando que de tal não tem é nada. Meu vizinho Jair, morador do 504, dono de uma voz bastante singular, diria até bonita se não fosse o choque de morar um Jair no 504. Um Jair que pode me interfonar quando bem entender e, pasmem, falar comigo.
    Isso deve significar que meus outros vizinhos todos também existem, têm nomes, rostos e, eita, podem me interfonar e falar comigo. É, eu até sei da existência de um ou outro vizinho, mas, sabe, agora todos existem e moram tão perto. De repente, o mundo parece um bocado maior.
 
 
Mariana do 1001.
(12 de julho de 2011)

sexta-feira, 1 de julho de 2011


Idiotemos!

Antes que se aproxime,
com sua ausência de todas as artes,
o triste sorriso da seriedade absoluta.
Absorta em si mesma, imune ao riso gratuito e desenfreado.
Imune à alegria dos bobos
à dança dos gestos aleatórios
aos sons da alma se revirando
à surpresa da explosão do nada.
Do ab-so-lu-ta-men-te nada!

Idiotemos!

Idiotemos com nossos saltos ao vazio.
Busquemos a emoção que paira, que plana.
A leveza de uma brincadeira ao acaso.
Viajemos com nossos olhos pela imortalidade das coisas esquecidas.
Abracemos o fio de poeira que flutua,
certamente ao nosso encontro.
(Por que não?)

Façamo-nos vítimas da idiotice sinestésica!
Intrínseca.
cambalhotas compulsivas
frases dessituadas
total falta de enredo.
Puns.

Abaixo a seriedade mesquinha!
Abaixo os que nos enquadram em sua falta de sonhos!
Pois que tentem!
Aos nossos amigos, o sorriso dos loucos!

Idiotemos!
Nós que sabemos idiotar!