terça-feira, 12 de julho de 2011

Jair do 504


    Estou em meu apartamento estudando quando toca o interfone. Atendo:
    - Boa tarde, aqui é o Jair do 504.
    Vejo-me completamente desconcertada por não ser o porteiro anunciando a chegada de algum amigo ou entregador. “Caramba! Há outras pessoas no prédio! E elas falam...”. Por que a surpresa, Mariana? Você sempre soube disso, oras.
    Estou acostumada a meu mundo de rostos marcados, já tarimbados. De resto, figuras sem rostos, sem nomes. E agora me vem esse tal vizinho do 504 me lembrando que de tal não tem é nada. Meu vizinho Jair, morador do 504, dono de uma voz bastante singular, diria até bonita se não fosse o choque de morar um Jair no 504. Um Jair que pode me interfonar quando bem entender e, pasmem, falar comigo.
    Isso deve significar que meus outros vizinhos todos também existem, têm nomes, rostos e, eita, podem me interfonar e falar comigo. É, eu até sei da existência de um ou outro vizinho, mas, sabe, agora todos existem e moram tão perto. De repente, o mundo parece um bocado maior.
 
 
Mariana do 1001.
(12 de julho de 2011)

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